LIVRO - Se auto-ajude-se-a-si-mesmo



LIVRO - "Se auto-ajude-se-a-si-mesmo"

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Olá!
Antes de qualquer coisa, me apresentarei.
Meu nome é Jamerson e tenho vinte e poucos anos.

É bom deixar claro que este é o primeiro livro que eu escrevo.
Bom, o primeiro assim, deste porte. Os anteriores nem beiravam dez páginas.
Para alegria de quem resolver investir seu dinheirinho na publicação deste livro, tenho planos de que este aqui tenha também menos páginas, porém mais conteúdo.

Trata-se de um livro de auto-ajuda.

Auto-ajuda?
Sim.
E não: Não fique com essa cara.
‘Tá bom, eu também estou fazendo esta cara. Não sou fã deste tipo de literatura... e até nem sei se é literatura.
Mas pesquisei o tipo de livro mais comprado e conclui ser este o meu assunto.
E acho irrelevante o fato de eu jamais ter lido algum livro de auto-ajuda, levando em consideração os tipos de pessoas que andam fazendo este tipo de livro ultimamente...

Bom, o que me atormenta mesmo é que eu sei que os livros de auto-ajuda têm um objetivo específico... e este meu não tem.
Mas suspeito que os outros autores falam tão subjetivamente que acho que o objetivo acaba sendo atingido de alguma forma...

Que objetivo, então, terá este meu livro?
Não sei. E talvez este seja um bom motivo para você procurar fazer outra coisa... ou não. Mas não é por causa disso que eu serei subjetivo ao extremo, se quer saber.

Bom, que tipo de ajuda eu poderei te oferecer?
Sinceramente, também não sei.

O bom da auto-ajuda é que o “auto” indica que quem ajudará é você mesmo. Então qual é a minha utilidade? Morfologicamente falando, nenhuma. E isso me deixaria aliviado caso eu fosse extremamente egoísta.

Se você espera que eu “te ajude a se ajudar”, desista, pois não sei mesmo como fazer isso.
Ah! E não vou contar minha história de vida, pois acho que as minhas experiências não vão se encaixar na sua vida. Como humanista, não desejo minhas experiências nem para meu pior inimigo!

...E também porque não quero falar sobre minha vida.

Tudo bem, eu confesso. Minha vida é chata.

Mudando de assunto, ou melhor, retomando.

O que você, leitor, gostaria? O que espera lendo este livro?
Suspeito que eu deveria ter feito essa pesquisa antes de começar o livro, mas é tarde demais. Já comecei a escrevê-lo.
Reperguntando:
O que você, leitor, gostaria? O que espera?
Sei que você gostaria de melhorar de vida, ficar rico, buscar paz interior, encontrar respostas...
Seguindo orientações de um amigo advogado, já vou avisando que não prometo te ajudar nisso.
Sério. Não sei mesmo como eu poderia te ajudar.
Assim como você, também tenho minhas histórias conturbadas com dinheiro, ao estilo Tom e Jerry. Não sei o CEP da Paz Interior e acho que as respostas da vida não são mostradas num gabarito ao final do livro.

Falando em final do livro, digo, da vida, acho que não é nem lá, na velhice, que encontraremos as respostas. Estaremos tão preocupados com a proximidade do fim que não fará sentido gastar os preciosos minutos emendando as pistas para decifrar o sentido da vida.

Vida...
Eu não deveria falar dela. Não tenho moral pra falar dela.
Vou ser um pouco honesto e espero não te deixar sentido com isto:
Eu acho que a vida é algo sem sentido.

Bom, eu poderia defender esta minha tese, mas achei melhor parar naquele ponto-parágrafo depois da palavra “sentido”. Achei a tese bonita.

A vida é sem sentido, vazia. Tipo formigas que carregam folhas. Parece que elas sabem o que estão fazendo, mas não. Fazem as coisas por instinto. É bonito de se ver, confesso, mas só.
Não, a vida não tem sentido. Nossa diferença para a formiga é que nós damos sentidos à vida e que cada um dá o sentido que quiser, ou o que os outros querem, caso você seja daqueles que possuem televisão.

Já percebeu como existem muitos sentidos criados pelos outros? Nascemos com as prateleiras recheadas de opções, cada uma recomendando a melhor forma de se viver.
Talvez por imposição ou preguiça, geralmente optamos pelas escolhas feitas por nossos pais. Isso é o que geralmente acontece na religião e é exatamente o que me levou a ser um torcedor do Vasco da Gama.

Que sentidos você está dando para a sua vida?

Graças aos comerciais de televisão, até mesmo as pessoas que vivem na frente da televisão sabem que vivemos num sistema voltado ao consumo.
Nem sempre foi assim. E as pessoas daquele tempo, pelo que suspeito, sobreviviam.
Particularmente, não tenho ideia de como eles faziam isso sem o Google...

A questão é que temos arco e flecha nas mãos. Somos nós que decidimos para onde vamos atirar. Existem vários alvos, em várias direções, cada um pintado com algum interesse.
A religião pendurou todos os alvos lá em cima de nossas cabeças (estranhamente, o jeito mais difícil é o mais popular), cada alvo proclamando ser o melhor.
Os comerciantes, pra não te fazer errar, não usam um alvo, mas um outdoor! Ou centenas deles, como me informou um amigo agora.

Existem vários alvos, mas só lembro agora destes dois.

O importante é se perguntar: Quem está segurando o alvo para onde você está apontando? O que te faz pensar que este alvo é o mais adequado pra dar ordens à sua vida? E por que você permite? E por que as coisas mais idiotas vão parar nos Trend Topics do Twitter?

Lembrei de uma coisa.

Quando eu digo “vida sem sentido” não quero dizer que ela não tenha sentido algum.
Isso faz algum sentido pra você?
A vida sem sentido pode ter vários sentidos, mas nenhum deles faz sentido, tipo os judeus que acreditam que comer presunto é uma afronta à Deus.

E você faz parte disso, mesmo sem perceber. Pois você provavelmente faz parte da maioria da humanidade que sustenta os luxos da minoria da humanidade.
E se mata de estudar. E se mata de trabalhar. E se mata pra sustentar os filhos. Se mata tanto que quando morrer já está craque.
E todos nós, a exemplo das formigas e dos judeus, vamos virar pó.
E precisamos ser algo melhorzinho que ser pó.

Enquanto você está aí parado observando seus minutos se passando, a sua vida vai indo embora sem chance de repetição do minuto anterior.
O que você pretende fazer? O mesmo que todo mundo faz? Viver 'que nem' os outros? Ser apenas mais um no Excel do IBGE?

A vida é sua, tome ao menos as rédeas dela.

Caramba, quem sou eu pra te dar conselhos assim? Sou um funcionário do setor privado. Beiro os trinta anos. Nenhuma moça se interessa por mim. Tenho um faz-de-conta-corrente no banco. E não sei nem fazer livro de auto-ajuda!

Podemos enfeitar a vida e até encontrar a beleza nela, mas a beleza é subjetiva (ops, prometi não usar esta palavra?). A questão é que nem tudo que é belo faz sentido e nem tudo o que faz sentido é bonito de se ver, tipo uma prova de matemática ou uma operação de fimose...

Mas voltemos a falar sobre a vida. Ou melhor, sobre a vida sem sentido. Talvez não, mas você já sentiu que sua vida parece não fazer sentido algum? Chamam isso de adolescência. Fase boa... de se sair dela. Falo isso porque a minha foi terrível. Não falarei nela.
A questão é que essa sensação não vai embora com o tempo.
A menos que você ganhe na Lotomania, esse sentimento de Oh-Deus-Me-Explique-Tudo-PelAmorDeTi vai te perseguir feito música chata.

Eita, merda. Já estamos a muitas páginas lidas e não tenho falado nada que sei! Isso me preocupa. Melhor eu falar sobre algo mais interessante... ou pocurar um advogado.

Posso pensar um pouco? Talvez eu escreva um livro sobre algo que eu entenda.
Enquanto isso, que tal procurar algo mais interessante pra fazer, tipo deixar de ficar lendo livros de auto-ajuda!?

::.

jambelfort

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