Frio, vazio e opaco.








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Algumas pessoas nascem sem as pernas. 
Muitas, sem o coração. 
Os hospitais fedem a gente. 
Manicômios, asilos, lugares para débeis não-aceitos entre os débeis comuns.
Adultos que cagam em fraldas. 
Meninos que estupram mulheres. 
Governos que explodem bebês. 
Seringas que carregam vermes. 
Fetos que não viram fotos. 
Jogos que amputam as mentes. 
Bebidas que castigam esposas. 
Indiferenças que partilham a dor. 

Assim é meu corpo neste mundo. 
Assim é este mundo que me traz torpor. 
Que cheiro imundo exalamos às galáxias! 
Moramos entre grades, com medo daqueles ser que não temem ser humano. 

Não me chamo mais Mim Mesmo. 
Este pulso cobre veias que escondem o que sou. 
Células fadadas defraudadas. 
Eu rumo o cemitério comunitário. 
O planeta plana em agonia. 

Frio, vazio e opaco. 

Viram o sangue nas vaginas não mais virgens das meninas de oito anos? 
Viram os destroços - carnes e ossos - putrificados no asfalto? 
O esquartejamento do casal? 
Eu vi aquele vômito de sangue, escarrado, do rapaz decapitado. 
Vi suicídios, terrores e temores. 
Vi meu corpo em decomposição, cortejado por bactérias horripilantes. 

Este é o mundo que me foi presenciado. 
Não me avisaram dos humanos maus. 
O Éden convertido em inferno. 
Somos horripilantes bactérias desesperadas por um Salvador cuja noção de ‘breve’ supera dois milênios. 
Meu corpo já não aguenta olhar adiante. 
Não possuo pernas, nem coração. 
Estou cansado da falta de condição em nossa condição. 

Festejem, ó vós, poucos homens de fé, que residirão eternamente com Deus. 
Meus saudosos cumprimentos e inveja.

Está escrito que brotaram cardos e abrolhos após a expulsão do Éden.
Espinhos em folhas e frutas.
Espinhos em nossa carne e alma.
Universo e nervos em colapso.
Criação irreconhecível.
Pecadores pela própria natureza.

Mas ainda assim...
Há uma esperança quente.
Um desejo pleno.
Uma lágrima transparente.

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jambelfort
www.livroabertonoescuro.blogspot.com 
jamys2006@gmail.com 
(Texto Registrado. Mencione minha autoria) 
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