Solidão Desenhada



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Meu desenho começa com um lago.
O lápis teima em traçar o que estou sentindo. 
Então logo surge o mar. 
 Desenho um porto despedindo-se de mais um navio. 
Eu rabisco o adeus de quem vê seu marido sair para mais um dia de pesca. 
Um garoto atirando pedras no mesmo lago em que um dia esteve à beira com seu grande amor. 
Agora, sentado, o menino também desenha coisas que vê de belo... para esquecer a dor, enquanto o lago se enche de pedras. 
 Abro minha caixa de lápis de cor e escolho a tonalidade certa para cada cenário. 
Deixo as pedras sem pintar. Logo o céu azul-claro fica escuro, bem marinho, devido às horas. Apagando pontos no céu surgiram estrelas... mas a lua não quis aparecer. Era uma noite diferente. Abrindo a janela, a esposa vê ao longe seu querido com cavalos-marinhos junto à pesca. 
Cada passo dele para ela era uma gota a menos de saudade. 
O porto ao navio não mais viu... mas o marinheiro sorriu ao pisar a areia... e pôde compartilhar a noite com seu amor de infância. 
 O que aconteceu ao desenho do garoto? 
Ela o viu. 
Gostou de cada cor. 
E lembrou o amor antigo. 
 Enquanto eles conversavam como antes, sentados à beira, um abraço aconteceu, novamente... enquanto seu lago se desfazia das pedras. 
 Acaba a tinta de meu desenho, e o acabo. 
Deixo sobre a mesa a arte que terminei com uma lágrima... 
Desenhei o que sei de belo... para esquecer a dor, na esperança que ela o veja... 
 Mas por mais um dia o meu lago se enche de pedras. ::. 
 (Obs.: Escrevi este texto num pedaço de papel que guardo até hoje. 
Agosto de 1999, em Brasília/DF. 
Um texto iniciante. Romântico. 
Patético. 
Sincero.
 Pensei em colocar o papel fora, mas resolvi dar um outro destino a ele. 
 "Há um coração quente nesta noite fria. Agora só me falta encontrar outro." 

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jambelfort
www.livroabertonoescuro.blogspot.com
jamys2006@gmail.com
(Texto Registrado. Mencione minha autoria)

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Sempre gostei de poesia. Espero que algum dia eu saiba fazer uma.
Poesia é forma de expressão. Porém muitas vezes aquilo que é escrito não condiz com o que realmente penso, sinto ou acredito.
Confesso que algumas palavras que uso neste blog são usadas para causar alguma impressão no leitor... ou então são forçadas para que rimem com o parágrafo anterior.
Sinceramente não aprecio isso. Muitas vezes o carinho que sinto não possui uma paroxítona adequada a ela. Por isso não aprecio "poesia-arquitetura", maquinada, trabalhada para exprimir uma lágrima ou um sorriso.
Gosto de sentir o verdadeiro gosto das coisas.
Me agradem elas ou não, mas que sejam sinceras.
Não me cazuzo a ponto de querer um amor inventado, com rimas pra mpb (que têm seu lugar certo), ou ainda, com palavras regradas, com quantidade exata de parágrafos, em padrão-literário. Sentimentos reais não se expressam assim.
Se é bela, corro o risco de que a palavra possa estar iludindo, não transmitindo o sentimento exato. Evito-a.
Se é feia, talvez uma verdade seja ignorada pelo leitor (e infelizmente acabo a ignorando no texto).
Meus sentimentos não se expressam assim. Quero em fatos reais o meu melhor sorriso, decepção, carinho, inquietação, curiosidade, razão, audácia, paixão, amor e tesão. As regras da Academia de Letras que se danem...
Gosto das coisas como elas realmente são. Pessoas são coisas sérias. Sentimentos são coisas sérias. Poesia também é.
Não quero um amor digitado, nem assim quero a indiferença. Não posso dizer que é verdade a palavra pré-trabalhada, planejada, de rima procurada, floreada, enganada, transgredida.
Gosto de palavras feito braile, assim, que me toquem.
E só sei fazer isso de outras formas...
me recuso a fazê-lo em poesia com regras de alvenaria, de tijolos posicionados sempre da mesma forma. Quando nasce em palavras, meu carinho nem pensa nisso, pois sabe o jeito certo.
Poesias construídas, mesmo desleiais, até que são bonitas pra se guardar, feito um broche.
Apesar de não serem instrumentos da verdade, são pinturas bem bonitas. Ficam bem na parede.
Sempre as adimirei. Sempre gostei de poesia.
Espero que algum dia eu saiba fazer uma.

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